Gepeto de Pinóquios que falam a verdade
Construir instrumentos de cordas é quase como conceber um filho, só que de madeira. Lembrou de alguma coisa? O luthier (artesão construtor de instrumentos musicais) é uma espécie de Gepeto, o construtor de bonecos da fábula “Pinóquio”. A diferença é que sua cria não pode mentir. Um violão, uma viola ou qualquer outro instrumento tem de ser, antes de tudo, um instrumento verdadeiro. Entre outras coisas, tem de falar a verdade pela afinação e ser capaz de, pelas mãos de quem o tange, emitir notas precisas fazendo-o soar com um timbre único e ter volume respeitável. Quanto ao acabamento então, nem se fala, tem de mostrar esmero.
O Música em Letras esteve no Centro Cultural Sesc Glória, em Vitória, no Espírito Santo (leia posts anteriores) e visitou a exposição “Corpo Du Som” do músico e luthier Rodrigo Veras.
Foi na Escola de Música Santa Terezinha, em Viçosa, Minas Gerais, que aos 11 anos Rodrigo Veras iniciou seus estudos de música, por meio do violão. A viola de dez cordas ganhou do violão e Veras foi aprender como tocá-la com o mestre Adelmo Arcoverde, no Conservatório Pernambucano de Música, em Recife.
De 2007 em diante, a viola possibilitou a Veras se expressar revelando parte de seu imaginário. No ano seguinte, a arte de construir artesanalmente instrumentos o seduziu e o levou a se especializar na construção de violas de dez cordas.
O mestre Lúcio Jacob, de Viçosa, acolheu Veras e passou a ensiná-lo como fabricar seus “Pinoquinhos”. Os instrumentos construídos por ambos – verdadeiros Gepetos- não mentem. São afinados, bonitos e com acabamento de artista. Concebidos por gente que entende do riscado.
Veras, desde 2010, idealiza, mede, risca, corta, lixa, fura e dá acabamento, construindo instrumentos musicais sob encomenda para vários músicos. Entre violões de seis, sete e oito cordas que Veras constrói, destaca-se a viola machete, instrumento típico utilizado no samba de roda (samba chula ou samba de viola) do Recôncavo Baiano. Oriunda da Ilha da Madeira, em Portugal a viola machete adaptou-se no Recôncavo ao ganhar outra maneira de ser construída e de ser tocada.
Veras não esconde o leite e ensina quem comparece em suas inúmeras oficinas sobre viola que realiza pelo país.
Na exposição, partes da construção desse instrumento ficam à mostra como seres dissecados, revelando suas vísceras (tampos, travessas do tampo, braço, laterais, fundo, filetes, escala, trastes,cavalete e tarraxas) em meio a todo tipo de madeira e ferramenta. Imagens dos fotógrafos Rodrigo Cândido e Alexandre Salomão quase soam de tanto embelezamento.
Veja abaixo fotos da exposição que, além de didática e bem montada, atesta a expertise de quem trabalha na vera.
EXPOSIÇÃO CORPO DO SOM
ONDE: Centro Cultural Sesc Glória, Av. Jerônimo Monteiro, 428 , Centro, Vitória, Espírito Santo, tel. (27) 3223-0720
QUANTO: Gratuito