Hermeto Pascoal ganha genérico

Carlos Bozzo Junior
O percussionista Fábio Pascoal tocando com pai Hermeto Pascoal ( Foto: Carlos Bozzo Junior)
O percussionista Fábio Pascoal tocando com o pai Hermeto Pascoal ( Foto: Carlos Bozzo Junior)

Aproveitando a proximidade de meu último post -sobre nomes artísticos e de batismo- revelo agora alguns compassos de uma conversa que tive com o percussionista Fábio Pascoal, 52, filho de Hermeto Pascoal, o “Chefe”, como os integrantes de seu grupo o chamam.

Entretanto, nem todos se referem ao músico albino dessa forma. Alguns o chamam de maneira bem semelhante à utilizada nos medicamentos genéricos, que tem substância ativa, forma farmacêutica e dosagem iguais, além da mesma indicação do medicamento de referência sem o nome fantasia original.

O “causo” aconteceu durante uma homenagem a Hermeto na Estudantina, famosa casa noturna do Rio de Janeiro, existente desde a década de 1930 e conhecida como uma das mais tradicionais gafieiras do país.

“Houve uma época, em que o pessoal da casa homenageava os grandes artistas da música e chamaram meu pai. Montaram mesa para nossa família inteira, comida, bebida, coisa e tal. De repente, escutamos pelo som do microfone: ‘Gente, hoje é uma noite muito especial. Estamos homenageando este grande instrumentista, compositor e artista da música brasileira, o maestro Ernesto Pascoal’ ”, contou rindo o percussionista ao Música em Letras. “Meu pai já foi brabo receber o prêmio, mas falei para ele deixar para lá. O cara errou, tudo bem…” Só que depois de contemplado com o troféu, o músico voltou imediatamente para a mesa, emburrado. “Na placa estava gravado Ernesto Pascoal, sem H. Acho que ele tem este troféu até hoje”, completou o filho de Hermeto.

O SOM DA PRAÇA E A CALÇADINHA DO JABOUR

Se você quiser conferir esta e outras histórias divertidíssimas, sempre acompanhado de boa música, procure pelo Fábio Pascoal no Som da Praça ou na Calçadinha do Jabour, ambos eventos que acontecem no subúrbio carioca do Jabour, sub-bairro de Senador Camará, zona oeste do Rio de Janeiro, além dos shows que participa tocando com o grupo do pai.

O Som da Praça existe há um ano e tem Hermeto como padrinho, ou “Dindo”, como é chamado por quem frequenta o local. “No subúrbio carioca a qualidade da música é muito ruim. É funk e aquelas coisas horríveis que rolam lá”, disse o filho de Hermeto que, com o intuito de mudar este panorama, oferece música de qualidade. “Por isso, só rola samba, choro ou baião. Tudo instrumental, mas se alguém quiser dar uma canja de música boa cantando ou tocando também pode”, falou o percussionista, que também realiza gratuitamente, oficinas de percussão, pintura, teatro e iniciação musical para crianças.

Os profissionais que tocam no lugar em sua maioria são músicos da noite do subúrbio carioca, mas tem de professor a engenheiro. “A maioria toca até às quatro da manhã de sábado, mas às nove e meia chegam lá para tocar com prazer”, explicou Pascoal que, entre outros, divide o palco com Jorge Jass, “com s mesmo”, no violão de seis cordas; Celinho Sousa, professor de violão clássico; Rubem Effe, “ele toca violão de seis, mas como se fosse o de sete, fazendo umas baixarias lindas”; Ricardo Leduk, no bandolim e violino; Hiltom Caetano, sax soprano e flauta; Jorge Braga, sax alto; além de Dario Nunes, engenheiro de Furnas, mas no som toca surdo. Quem aparece também é o famoso Zeca do Trombone, figura carimbada da noite carioca.

Na Calçadinha do Jabour, a coisa é diferente. Embora seja também uma confraternização musical, é um programa noturno direcionado para adultos, onde há mais de cinco anos, uma vez por mês, sempre se homenageia compositores como Baden Powell, Caetano Veloso, Cartola, Zé Ramalho e Jackson do Pandeiro, entre outros. “A única coisa é que sempre tem improviso. Por isso, exijo a presença de um solista que pode ser guitarrista, saxofonista ou outro instrumentista, mas tem que improvisar”, explicou Pascoal, o sempre bem humorado filho de Ernesto, ou melhor, Hermeto.

PARA CHEGAR

Som da Praça: Cerca de 150 pessoas comparecem a cada dois domingos por mês, às 10h, na praça do Jabour, no largo Ludgero, para curtir música de qualidade. Crianças são frequentes. Para chegar de ônibus, embarque no carro da linha 396 Jabour/Carioca. De trem, desça na estação Bangu, e embarque no carro da linha 864 Bangu/Campo Grande.

Calçadinha do Jabour: Entre 200 e 300 pessoas comparecem ao evento, uma vez por mês, que começa às 22h e vai até duas da manhã. Programa direcionado para adultos. As conduções são as mesmas acima. O endereço é rua Raul Azevedo: “Não tem número. Fica no Bar do Alan, um botequim típico de subúrbio carioca. Ao lado da papelaria Prima Bazar. Eles baixam as portas da papelaria e montamos o palco debaixo da cobertura deles”, disse o percussionista que divulga ambos os eventos em sua página homônima do Facebook.